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Ciclo de Estudos Interdisciplinares debate Desinformação

por Caio Guilherme (UFPB), Daniel Nascimento (UFPE/CAA) e Laís Guedes (UFPE/CAA), estudantes voluntários na cobertura do Intercom 2022


Principal evento do Intercom, o 45º Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, teve como centro dos debates o tema do congresso deste ano, “Ciências da Comunicação contra a Desinformação”. O tema foi título da conferência de abertura do evento, proferida pelo professor Eugênio Bucci, professor titular da ECA-USP e ex-presidente da Radiobrás. Outras três mesas abordaram questões relacionadas.

Prof. Eugênio Bucci realizou conferência de abertura / Foto: Raíssa Ramalho

A partir das definições da palavra informação desde a antiguidade, passando pelo sentido de sacralidade até o status de verdade iluminista, o professor abordou os lugares da verdade e da mentira na política, trazidos pela filósofa Hannah Arendt. Ele tratou a informação e a verdade como inseparáveis, a primeira servindo como conector dos fatos e a segunda, na busca por sua definição enquanto verdade factual.

Em relação à mentira, trouxe como ela é parte da política, compondo seu receituário. O professor Bucci rechaçou o termo fake news por ser cercado de sentidos voláteis e apontou o conceito de desinformação como o mais correto para tratar da mentira na veiculação da informação. O conceito da desinformação foi discutido a partir da intencionalidade e da escala.

O professor destacou como a disseminação de desinformação atualmente tem levado à autofagia da democracia e é utilizada como arma pelos regimes de força. Ele demonstrou como a comunicação explora sentimentos e ressentimentos em detrimento da verdade factual, provocando um controle das massas pela propaganda facista. Essa ação ocorre no meio das estruturas das máquinas e redes sociais, fazendo uso dos seus algoritmos.

Por fim, elencou três proposições: a comunicação ocupa o centro do capitalismo e das estruturas de poder; o olhar se converteu em força de trabalho; nessa superindustria se desenvolveu um novo patamar de escravização. Concluindo, dessa forma, que a desinformação barra a comunicação entre os seres humanos. Ao final da conferência falou sobre como vê a importância da discussão deste tema no Congresso da Intercom em um momento tão delicado da vida política nacional. “Eu acredito que o momento que vivemos, de fato, é de maior gravidade e a Intercom tem um momento luminoso ao eleger isso, que para nós é de extrema gravidade, como objeto dos nossos estudos e atenções. O tema não poderia ser mais apropriado e a mobilização do nosso campo para entender o que se passa, pode ajudar de forma substancial a democracia brasileira”, disse o conferencista.

Mesa 1 – A primeira mesa veio com o tema “Ciências da comunicação e da informação no combate à desinformação”, teve a mediação de Marialva Carlos Barbosa (UFRJ) e com as participações de Carlos Frederico Brito D’Andrea (UFMG), Elizabeth Saad (USP), Igor Sacramento (UFRJ) e Joana Belarmino (UFPB).

O professor Carlos D’Andrea discutiu o conceito de plataformas infraestruturais e de como elas operam as dinâmicas desinformativas através das várias camadas que mediam a comunicação de dados e carregam visões de mundo. A professora Elizabeth Saad dialogou sobre o conceito da desinformação e do funcionamento dos ecossistemas de propagação a partir de um conjunto de elementos que encampa os artefatos de comunicação e os seus conteúdos focados em desinformar; Como busca de solução propôs o treinamento do olhar.

O contexto da pós-verdade foi o centro da exposição do professor Igor Sacramento, que discutiu como ocorre a vocalização de informações por meio das redes sociais. Para isso, revisitou acontecimentos do passado e o conceito de boato. O pesquisador apontou acisma como a motivadora do negacionismo e questionou, ao fim, quando houve ordem na informação. Já a professora Joana Belarmino estabeleceu ligações entre a precariedade da acessibilidade na comunicação com os processos de desinformação. Destacou que as pessoas com deficiências se tornam mais vulneráveis à desinformação e também questionou quando houve o acesso pleno à informação.

Mesa 2 – Com o tema "Desinformação plataformizada e violações de direitos humanos", a segunda mesa do ciclo recebeu as pesquisadoras Ana Regina Barros Rêgo Leal (UFPI), Glória Rabay (UFPB), Nina Fernandes dos Santos (INCT.DD) e Vera França (UFMG) para um debate mediado por Adriana Omena (UFU/INTERCOM).

Foram discutidos o impacto da desinformação em um contexto em que as fake news e a manipulação são utilizados em prol de interesses políticos, gerando ameaças à vida e integridade da população atingida. As integrantes também ressaltaram o perigo dos discursos de ódio disseminados nas plataformas para minorias sociais e políticas, relacionando o tema à manutenção dos direitos humanos destes grupos.

"Existem vieses na forma como a desinformação é utilizada na forma política e dois deles são o de gênero e o de raça" disse Glória Rabay, pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Ação sobre Mulher e Relações de Sexo e Gênero - NIPAM/UFPB. Coordenadora da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCd Brasil), Ana Regina Rêgo comentou: “Eu acho que as falas se complementaram e trouxeram informações relevantes. Tanto do ponto de vista de uma prática, quanto do ponto de vista teórico".

Mesa 3 – A pandemia foi o contexto central da terceira mesa, que foi nomeada “Existe vacina para a desinformação?”. Luisa Massarani (Fiocruz), Patrícia Blanco (Instituto Palavra Aberta), Pedro Nunes Filho (UFPB) e Pollyana Ferrari (PUC-SP), com mediação de Ivanise Hilbig de Andrade (UFBA), falaram sobre o combate à desinformação no cenário marcado pela infodemia na pandemia da Covid-19.

“As conjunções que atravessam as dinâmicas transfronterísticas, expressam a existência e a complexidade de diferentes zonas de conflitos, potencializando os falsas informações, disputas no campo ideológico, discurso de ódio e extremismo” comentou o professor Pedro Nunes Filho (UFPB).

45º Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação