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Colóquio latino-americano de ciências da comunicação
Por Talita França (UFPB) e Sarah Emrish (UFPB), estudantes voluntárias na cobertura do Intercom 2022
Com coordenação do professor Edgar Rebouças, o Colóquio latino-americano de ciências da comunicação foi um dos destaques da programação do primeiro dia do Intercom 2022. O evento contou com três mesas mesas que debateram o cenário da Desinformação a partir do intercâmbio entre pesquisadores de diferentes países do continente e reforçou a importância do diálogo e da troca de experiências como forma de auxiliar no debate.
Colóquio Latino-americano de Ciências da Comunicação. Foto: Ana Rebeca
A primeira mesa do evento foi intitulada “Desinformação e ameaças a democracia, com participação do Fernando Oliveira Paulino da Universidade de Brasília (ALAIC/SOCICOM/UNB) e Gissela Dávila Cobo (CIESPAL - Equador). O debate foi iniciado com a discussão sobre a desinformação como estratégia política e sua relação com as propagandas de guerra do início da primeira guerra mundial. Em sua fala, o professor Fernando Paulino retomou a questão da desinformação não ser um mero discurso e fez ligação com conceitos de desinformação estarem ligados às questões bélicas. Ele reforçou a ascensão da internet das tecnologias de comunicação e como a velocidade dessas ferramentas contribui para ambos os lados da comunicação: informação e desinformação. Além disso, foi discutida a importância das Instituições de Ensino Superior em produzir conteúdos de comunicação pública e democratização da informação nos portais das instituições através de projetos.
A segunda parte da mesa contou com a presença da professora Gissela Dávila Cobo, abordando a questão do uso exagerado dos aparelhos celulares e que este uso não significa estar informado. O uso imoderado das redes sociais contribui para uma intoxicação de tantas informações geradas nas redes. Ambos os palestrantes, Fernando e Gissela, abordaram a importância de olhar a realidade local e proporcionar a comunicação social, de modo que seja acessível e democrático, já que a ausência da informação proporciona a desinformação.
Desafios contemporâneos das Ciências da Comunicação - No turno da tarde, foi realizado em duas palestras que debateram a Desinformação como principal desafio do Campo da comunicação na atualidade. A primeira mesa abordou os enfrentamentos que a comunicação sofre com a desinformação, principalmente nos países Latinos Americanos e contou com a participação de Beatriz Elena Marín Ochoa (ACICOM/UPB – Bolívia), Daniela Lazcano Peña (INCOM/PUCV – Chile) e Dorismilda Flores-Márquez (AMIC/USB – México) palestra. A professora Dorismilda Flores-Márquez, trouxe uma investigação realizada com mais de 300 pesquisadores da comunicação sobre os desafios empíricos, teóricos e metodológicos da comunicação no México. Ela enfatizou como a desinformação nunca deixou de existir, apenas se reconfigurou depois das redes digitais e algoritmos. Dentro desse contexto, as demais palestrantes apontaram que os desafios enfrentados na comunicação estão também muito atrelados a política científica nacional e sua falta de incentivo.Para elas, a melhor forma de combater esse problema é através da formação e educação sócio-digital da população, consciente e atenta às desinformações.
Seguindo na mesma linha, a segunda mesa, composta por Marta Pérez Pereiro (AGACOM/USC – Espanha), Madalena Oliveira (SOPCOM/UMinho – Portugal) e Rafael González Pardo (FELAFACS/UT – Colômbia), discutiu como a desinformação afeta todo o ecossistema da comunicação, uma vez que não se trata de um problema isolado. Esses desafios se consolidam à medida que falta apoio e financiamento e subordinação a um modelo de comercialização da ciência, além do fator de fragilidade da afirmação epistemológica, a partir disso Madalena Oliveira afirma “se pesquisamos a vida, temos que pesquisar a comunicação”. A partir desta perspectiva, foi discutido que para combater a desinformação é necessária uma interação de campos, análises mais gerais, baseadas no fortalecimento de conhecimento e sua disseminação, através do diálogo multidisciplinar.
Madalena, no entanto, chama atenção sobre essa metodologia, pois a comunicação sofre de uma fraqueza teórica e o entusiasmo acadêmico não é capaz de curar a crise de identidade científica. A comunicação é vista como um instrumento de estudo e não um estudo científico, gerando uma desvalorização científica da mídia. Madalena cita: "Uma disciplina que não se cultiva a si mesma condena-se a ser uma disciplina sem pensamento próprio.” Salientando sobre a importância de um estudo multidisciplinar, porém que não sobressaia sobre a disciplina da comunicação.
Encaminhamentos - Para encerrar, os palestrantes e o mediador Edgar Rebouças falaram sobre a valorização da comunicação latino-americana entre as próprias comunidades, fortalecendo e estreitando laços. Margareth Kunsch (USP/INTERCOM) enfatizou a importância desse intercâmbio cultural e fusão de conhecimentos, colocando o Intercom como melhor ferramenta para isso. Por fim, o professor destacou a importância do debate sobre a desinformação na América Latina, analisando que a desinformação é um problema generalizado e que os estudiosos estão através de suas pesquisas e práticas lutando contra essa infodemia. Foi apontado que a melhor forma de se combater é através da educação midiática, educomunicação, regulação de plataformas e regulação de usos.